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quinta-feira, 24 de julho de 2014

A Consciência Necessária



Há Uma Relação Viva Entre Cada Indivíduo e o Planeta

Desde que a grande mídia mundial começou a divulgar em todos os cantos deste planeta os relatórios referentes às mudanças climáticas e suas catastróficas consequências para o futuro da humanidade, pouco tem se falado das atitudes e contribuições individuais que afetariam significativamente, de modo positivo, o impacto apocalíptico dessas mudanças. Basicamente, é ressaltado que as nações devam reduzir as emissões de gases mediante o controle e o aprimoramento técnico dos processos produtivos em escala industrial e comercial, e a utilização de fontes alternativas de energia que não agridam o meio ambiente. É óbvio que isso seja fundamental e importante para que os países, com seus respectivos governantes, não só cumpram os compromissos assinados, acordados e protocolados em tratados, mas também adotem em suas políticas públicas programas que, de fato, tragam ganhos ambientais para a qualidade de vida da Terra, como por exemplo, a preservação da biodiversidade local e o controle da natalidade humana.

Não há dúvidas de que as políticas públicas que venham ao encontro das causas ecológicas sejam imprescindíveis nessa tentativa de reversão do caos anunciado. Mas não é tudo e nem poderia ser. A responsabilidade maior pela quebra dos paradigmas culturais, sejam eles constituídos no tempo da barbárie ou mais recentemente no tempo das futilidades descartáveis da sociedade de consumo, advirá da mais eficiente e poderosa das revoluções, que é a revolução individual. É a velha história de mudar o mundo começando por si mesmo. Isso ocorre quando o indivíduo toma consciência das suas co-responsabilidades frente aos problemas e aos desafios da vida e do mundo que os cerca e resolve então, transformar a realidade a partir da mudança de hábitos, costumes e atitudes. Mais cedo ou mais tarde, essa consciência individual atinge outras consciências, reforçando e acelerando, de forma coletiva, a transformação da realidade.

A conhecida expressão de deitar ao travesseiro com a consciência tranquila não deve ficar restrita aos valores culturalmente herdados ou convencionalmente adquiridos. Pensar unicamente que não tenhamos matado (apenas nosso semelhante), roubado, trapaceado, prejudicado ou não feito mal a outrem, contribui, sem dúvida, para a paz e a construção de um mundo melhor, porém não isenta-nos da culpa pela violência contra a natureza e crueldade para com as demais formas de vida, e nem é suficiente para salvar o planeta do caos e da destruição. Há a necessidade de se estender a moral e a ética para uma consciência ecológica que busque um ideal de responsabilidade e sustentabilidade.

O modelo de vida da sociedade pós-moderna, baseado no estímulo e apelo consumista para a satisfação de necessidades, muitas não-essenciais à sobrevivência, tem levado o nosso planeta a um progressivo esgotamento dos recursos naturais, e não tem permitido a regeneração daquilo que a natureza,em condições normais, consegue manter e repor. Toda a cadeia produtiva que transforma a natureza em bens de consumo tem como finalidade atingir o ser humano, definido, na expressão do mercado, como um consumidor, um cliente. Ele é o fim que justifica os meios. Daí a importância de seu comportamento e hábitos de consumo. Por isso é que somente o indivíduo consciente para a mudança, poderá transformar a cultura auto-destrutiva da civilização atual. Sem isso, a sobrevivência da humanidade e o futuro da Terra estarão ameaçados, e o aquecimento global é apenas o início desse processo.

Tomar conhecimento ou adquirir consciência das consequências ambientais advindas de atos esporádicos e hábitos cotidianos, não conduz, necessariamente, um indivíduo a assumir responsabilidades e/ou tomar decisões transformadoras. É tal como a fé sem obras, que é morta, ou filosofia sem prática. A consciência necessária é aquela que, independente de uma justificativa egoísta ou altruísta, provoca rompimentos, abdicações e mudanças nas atitudes individuais. Nesse sentido, o indivíduo contribuirá com a sua parte para que se evite o caos ecológico, e isso pode ser traduzido em atitudes bem simples como poupar água e energia até a mudança de hábitos de consumo, como por exemplo, a redução ou abolição da ingestão de carne.

A autocrítica que leva à consciência necessária é que irá definir os impactos de um planeta em ebulição. A tentativa de se evitar ou minimizar os efeitos do aquecimento global culminam no estilo de vida pessoal de cada habitante da Terra. É o modo de ser, estar e viver que deve passar pelo crivo da reflexão e conduzir à mudança necessária. Caso contrário, a irresponsabilidade individual continuará justificando a queima de combustíveis fósseis, o desperdício de água e a sua contaminação, o consumismo e a proliferação dos resíduos descartáveis, a destruição de áreas férteis e o aumento da desertificação, o desmatamento das florestas para a expansão da produção de carne e o consequente aumento de amônia e gás metano e enfim, tudo que a consciência necessária ainda não mudou.

Márcio Linck
Márcio Linck é historiador  e ecologista.

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