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domingo, 24 de maio de 2015

O poder da gentileza



Eminente professor negro, interessado em fundar uma escola num bairro pobre, onde centenas de crianças desamparadas cresciam sem o benefício das letras, foi recebido pelo prefeito da cidade.

O prefeito ouvir-lhe o plano e disse-lhe:

- A lei e a bondade nem sempre podem estar juntas. Organize uma casa e autorizaremos a providência.

O benfeitor dos meninos desprotegidos considerou:

- Mas doutor, não dispomos de recursos... Que fazer?

- De qualquer modo, cabe-nos amparar os pequenos analfabetos.

Diante de sua figura humilde, o prefeito disse:

- O senhor não pode intervir na administração.

O professor muito triste se retirou e passou a tarde e a noite daquele sábado, pensando, pensando...

Domingo, muito cedo, saiu a passear sob as grandes árvores, na direção de antigo mercado.

Ia comentando, na oração silenciosa:

- Meu Deus como agir? Não receberemos um pouso para as criancinhas, Senhor?

Absorvido na meditação, atingiu o mercado e entrou.

O movimento era enorme. Muitas compras. Muita gente.

Certa senhora, de apresentação distinta, aproximou-se dele e, tomando-o por servidor vulgar, de mãos desocupadas e cabeça vazia, exclamou:

- Meu velho, venha cá.

O professor acompanhou-a sem vacilar.

À frente dum saco enorme em que se amontoavam mais de trinta quilos de verdura, a matrona recomendou:

- Traga-me esta encomenda.

Colocou ele o fardo às costas e seguiu-a.

Caminharam seguramente uns quinhentos metros e penetraram elegante vivenda.

Ela solicitou de novo:

- Tenho visitas hoje. Poderá ajudar-me no serviço geral?

- Perfeitamente – respondeu o interpelado -, dê suas ordens.

Ela indicou pequeno pátio e determinou-lhe a preparação de meio metro de lenha para o fogão.

Empunhando o machado, o educador, com esforço, rachou algumas toras.

Em seguida, foi chamado para retificar a chaminé.

Consertou-a com sacrifício da própria roupa.

Sujo de pó escuro, da cabeça aos pés, recebeu ordens de buscar um peru assado.

Pôs-se a caminho, por mais de dois quilômetros, trazendo o grande prato em pouco tempo.

Logo mais, atirou-se à limpeza de extenso recinto em que se efetuaria lauto almoço.

Nas primeiras horas da tarde, sete pessoas davam entrada no fidalgo domicílio. Entre elas, relacionava-se o prefeito que anotou a presença do visitante da véspera, apresentado ao seu gabinete por autoridades respeitáveis.

Reservadamente, indagou sua irmã, que era a dona da casa, quanto ao novo conhecimento, conversando ambos na surdina.

Ao fim do dia, a matrona distinta e autoritária, com visível desapontamento, veio ao servo improvisado e pediu o preço dos trabalhos.

- Não pense nisto - respondeu com sinceridade -, tive muito prazer em ser-lhe útil.

No dia imediato, contudo, a dama da véspera procurou-o, na sua casa modesta em que se hospedava e, depois de lhe rogar desculpas, anunciou-lhe a concessão de amplo edifício, destinado à escola que pretendia estabelecer.

As crianças usariam o patrimônio à vontade e o prefeito autorizaria a providência com satisfação.

O professor teve os olhos úmidos a alegria e o reconhecimento... e, agradecendo, beijou-lhe as mãos, respeitoso.

A bondade dele vencera os impedimentos legais.

O exemplo é mais vigoroso que a argumentação.

A gentileza está revestida, em toda parte, de glorioso poder.

Neio Lúcio
do livro: "A Vida Fala"
Francisco Cândido Xavier







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