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quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Poema Azul





                                                   
             
Poema Azul

                  Maria Helena                         


Eu hoje estou azul! Nas minhas mãos nervosas
Os dedos são azuis, longos e delicados.
O perfume é azul nas pétalas de rosas
Como o sumo é azul nos frutos sazonados.


Azul sem dimensão, do polo Norte ao Sul,
Cai nas águas do mar, nas distâncias sem fim,
E eu toda me deslumbro olhando o intenso azul
- Que na curva do Céu, nunca houve um azul assim.
O mundo, em derredor, em doida convulsão,
Lateja o mesmo tom em tom mais destemido.
Até a própria noite ainda em formação
Tem um nítido gosto a azul inconcebido.
Do mais sombrio vale à serra mais erguida,
Alagando extensões e searas e pauis,
A estrebuchar de cor, é azulada a Vida,
Porque o Tempo, do azul, faz as horas azuis.
O azul impõe-se, alastra, exorbita-se, é rei:
Trasborda cada vaga, inunda cada palma...
De tudo ser azul (tão azul!) eu nem sei
Se o meu corpo é azul ou se é azul minha alma.

Bem no fundo de mim, num azul em demência
Que se alteia em cachões hora a hora mais loucos,
Esta saudade enorme e que é negra de ausência,
Dentro do coração vai azulando aos poucos.
Porque a cor é mais cor e subjuga de excesso,
Há pedaços de Céu desfolhados nos charcos
E nos cais pedra-azul, quando a hora é regresso,
Tem um quê de azulino a chegada dos barcos.
Azul pelos desvãos, em todas as alturas...
Não há sítio nenhum onde se não concentre.
De tudo ser azul, até as mães futuras
Sentem gestos azuis a germinar no ventre.
Vão-se tornando azuis as verdades e os sonhos
Sem pedir a ninguém licença nem conselho...
No corpo do pomar, a carne dos medronhos
Tem um sabor azul que se tornou vermelho.
Azul que se distende ao longo do jardim;
Que vive na raiz e em cor se realizou.

Um azul tão azul, que nunca terá fim,
Como, de tão azul, nunca principiou.
Azul do abismo fundo à cor dos Infinitos
Sem o deter ninguém, sem nada que o anule.
Azul os mundos e eu e os santos e os malditos,
Azul sempre maior, em turbilhões, aos gritos,
Azul o próprio Deus que fez o azul, azul.


(Resposta de Maria Helena ao Poema de
JG de Araujo Jorge do livro
" De Mãos Dadas" 1a edição1961.)


                                                                                

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