Em frente ao espelho, Felicidade ajeita seu vestido e pensa: "Hoje é o meu grande dia, aquele que esperei por muito tempo. Finalmente… serei adotada."
Há nove anos atrás, assim que nasceu, ela fora deixada no orfanato Andorinhas. Madre Serena foi quem a acolheu. Ela nunca soube nada sobre sua mãe e isto a deixava muito triste e Madre Serena sempre lhe consolava dizendo:
- Felicidade, um dia você será adotada, como as demais crianças.
Mas os anos iam passando e nada desta promessa acontecer. Os casais gostavam mais de criancinhas para acompanharem, ver crescer.
A menina, que passara toda a sua vida no orfanato, desenvolvera um gosto de ler histórias, contos infantis, poemas e pintura. Ela expressava sua tristeza, alegria e esperança em suas telas de pintura, algo que amava e fazia muito bem.
Todo domingo muitos casais iam visitar o Andorinhas, procurando crianças para adotar.
Um dia, um casal se interessou muito pela menina, deixando-a muito feliz, mas… logo disseram à madre que, apesar de terem gostado muito dela, eles preferiam uma criança mais nova, uma que fosse branca, pois Felicidade… era negra.
Ela, ao ouvir isto, ficou muito triste e, depois deste ocorrido, sabia que seria mais difícil ser adotada.
Madre Serena sempre lhe dizia:
- Felicidade, nunca desista de seu sonhos, pois um dia eles se tornarão realidade.
Em uma manhã, Felicidade estava no salão pintando uma nova tela quando madre Serena entrou acompanhada de um casal, uma jovem senhora que, apesar de ser muito bonita, mostrava um rosto triste. Eram Afonso e Renê e, como muitos outros casais, queriam adotar uma filha.
Renê, chegando perto da menina, abraçou-a, chorando, dizendo logo ao marido:
- Minha procura terminou aqui no Andorinhas, eu já encontrei minha nova filha. O casal informou à Felicidade que, depois de resolverem todos os processos legais de adoção, viriam buscar a menina.
Felicidade, olhando para seu quarto pela última vez, saiu ao encontro de sua nova família. Eles estavam lá fora aguardando junto com a madre Serena, que ficou emocionada e triste com sua partida do orfanato, pois gostava muito da menina. Eles se despediram e foram para casa.
Chegando lá, Afonso foi mostrar para Felicidade toda a casa. Ela, assim que viu seu quarto, amou; ele estava todo decorado em róseo e amarelo e ainda tinha um pequeno atelier para seus desenho e leitura.
Felicidade nem acreditava que tudo isto era verdade.
Afonso explicou a ela que Renê estava se recuperando da perda da filha deles, falecida há um ano atrás. Os médicos disseram que adotar uma criança ajudaria muito a superar esta perda. Afonso pediu a Felicidade que envolvesse Renê em muito amor, carinho e amizade.
A vida para eles três estava recomeçando.
Afonso passava o dia todo fora no trabalho. Renê era escritora mas ainda estava muito triste e, por este motivo, ainda não voltara ao trabalho.
Toda manhã Felicidade lhe fazia companhia, pegava seus livros e ficava lendo para Renê, que ficava feliz em ver tanto amor e dedicação da menina pela leitura; este fato fazia ela se lembrar de si mesma, pois desde criança gostava de ler, o que lhe ajudou a decidir e escolher a profissão de escritora.
Aos poucos, Felicidade e Renê começaram a se entender.
Ela ia reagindo à tristeza e melancolia que lhe invadia o coração pela perda da filha.
A menina recebia de Renê o que sempre lhe fizera falta em toda sua vida: o amor de mãe.
Afonso, sempre que chegava em casa, encontrava as duas envolvidas em uma conversa muito animada sobre livros, pintores, escritores, poetas em geral, trocando experiências e fazendo projetos para o futuro da menina.
O que estava faltando para Renê se curar da tristeza que lhe acompanhava há um ano era encontrar de novo a felicidade, e o que sempre fizera falta para a menina era uma família.
Agora, todos que por ali passassem, reconheceriam de longe que aquela era... a Casa da Felicidade.
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