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domingo, 2 de setembro de 2012

Mitologia Japonesa - Parte I




Por Daniel Silva

Breve Nota sobre a tradução e as fontes


Tratando-se de uma mitologia tão bela e vasta quanto a japonesa, é certamente temerário, da parte de qualquer um, buscar realizar uma tradução, principalmente quando não há acesso aos originais. Portanto, Essa tradução não pode, nem é, totalmente fiel as fontes da mitologia. Elas são, especialmente, o Kojiki, que seria uma espécie de compilação da mitologia japonesa.

Houve momento em que necessitei de agir de forma mais ou menos arbitrária, com certos termos, tendo em vista a sua peculiaridade no português; assim, ao invés de augusto, que remete ao império romano e aos deuses clássicos, utilizei "venerável", "grandioso", ou, em menor grau, "sacro". Que me perdoem, mas, sacrifiquei uma fidelidade duvidosa a um texto não original, por uma melhor compreensão. Preservei, porém, o título e a continuidade em "capítulos", que é útil numa leitura.

A religião Xintoísta - e nos deteremos apenas para um brevíssimo esboço - é a religião tradicional do Japão, centrada numa fusão de cultos a deuses e a seres da natureza, muito ligada ao ambiente místico dessas ilhas do oriente. E o espírito dessa religião está contido em certas passagens das histórias, assim como os germes da sociedade e cultura japonesa, como a submissão da mulher e a honra, além da aplicação e da disciplina estão, também, presentes na mitologia. 

Enfim, o leitor certamente notará certas semelhanças com a mitologia greco-romana, e com outras no decorrer da leitura. Não cabe aqui fazer quaisquer cogitações ou comparações, mas tão somente chamar a atenção para esse fato, por si só digno de um estudo.
Origens do Céu e da Terra

No mais antigo dos tempos, o céu e a terra estavam grudados, como se tivessem sido unidos, ao longo dos séculos, em uma matéria informe. Repentinamente, o silêncio que imperava foi quebrado, com sons estranhos, cuja origem era o movimento das partículas. Assim, a luz e as partículas mais céleres se elevaram, mas nem todas puderam seguir a luz em sua ascensão. Dessa forma, a luz acumulou-se na parte superior do universo, e abaixo dela as partículas formaram em primeiro lugar as nuvens, depois um paraíso chamado de Takamagahara (fenda do alto firmamento). E muito abaixo as partículas permaneciam em uma massa informe, que foi chamada de terra.

Naqueles tempos, em que nasceram o céu e na terra, surgiram divindades em Takamagahara. Eram chamados: Ame-no-mi-naka-nushi-no-Kami (Senhor do esplêndido Centro do Céu), Taka-mi-musushi-no-Kami (Divindade da Esplêndida Energia Vital), e Kami-musushi-no-Kami (Deus da Energia Vital). Todas essas três divindades formadas espontaneamente se ocultaram. De outro lado, enquanto o mundo movia-se como uma medusa, surgiu algo parecido com um broto de bambu: Umashi-ashi-kabi-hikoji-no-kami (Antigo Príncipe do encantado broto de Bambu) e Ame-no-toko-tachi-no-kami (o que se mantém eternamente no céu).

Estas duas divindades, apesar de formadas espontaneamente, também vieram a ocultar-se. Com as outras três mencionadas, formam as "Divindades Celestiais Independente" primordiais.


As sete gerações divinas

Os nomes das divindades que se formaram em seguida foram: Kuni-no-toko-tachi-no-kami (o que permanece eternamente sobre a terra) e Toyo-kumo-un-no-kami (Senhor Justo). Estas divindades também se ocultaram. Em seguida, vieram a se formar U-hiji-ni (Senhor do limo da terra), e logo sua irmã-esposa, a deusa Su-hiji-ni (Senhora do limo da terra); logo o deus Tsunu-guhi (O que integra as origens), e sua irmã-esposa Iku-guhi (A que integra a vida); e o par seguinte, o deus Ô-to-no-ji (O ancestral da grande região), e sua irmã e consorte Ô-to-no-be (A ancestral da grande região); logo o Deus Omo-Daru (O perfeitamente formoso) e sua jovem irmã-esposa, a deusa Aya-kashiko-ne (a venerável). E o par O Venerável Izanagi-no-Miko (O primeiro homem, o grande varão) e sua jovem irmã e consorte A Venerável Izanami-no-Mikoto (A grande mulher, a primeira mulher). Esses deuses, desde Kuni-no-koto-tachi, até a Venerável Izanami-no-mikoto são conjuntamente chamadas de sete gerações divinas.

A criação do Arquipélago e o par primordial

Então os deuses se reuniram e deliberaram longamente sobre a terra, que continuava sendo a mera mescla de águas e terras, informe e plana. Decidiram por enviar um par deles para organizar a terra, e assim O Venerável Izanagi e a Venerável Izanami receberam um Grande Mandamento, que dizia: "Regulai e consolidai a terra em movimento". Assim ordenando, foi a eles confiada a ordem e a lança celestial, Ama-no-Nukobo, que estava coberta de pedras preciosas; então as divindades, estando sobre a ponte flutuante do céu - talvez um arco-íris - desceram a lança lentamente, e, girando-a, coalharam a água salgada; quando subiram a lança havia uma ilha, que foi chamada de Onogoro (espontaneamente coagulada).


Descendo, então, do céu, e indo para a ilha, em pouco tempo erigiram um Sagrado Altar, Yashidono, uma Sacra Coluna, Ama-no-mi-hashira, o Sagrado Pilar do Céu, e um Salão Santo, com oito braças.

Então questionou o Venerável Izanagi a sua irmã: "De que modo formou-se seu corpo?", ao que ela respondeu: meu corpo está completamente formado, mas há uma parte que não cresceu e está selada. E disse o Venerável Izanagi: "Também o meu corpo está totalmente formado, mas há uma parte que cresceu em excesso. Logo, se inserirmos a parte que me cresceu em demasia, criaremos terras”. "Que solução melhor do que procriar?" A Venerável Izanami retorquiu: "Certamente está bem assim”. E O Venerável Izanagi disse: "Andemos em volta dessa Sagrada Coluna Celeste, e quando encontrarmo-nos do outro lado, haveremos de nos unir”.

Assim falaram, e entraram em acordo. Ele disse: "Tu para me encontrar, deves ir pela direita; eu, para encontrar-te, irei pela esquerda". Quando deram a volta, tal como tinha combinado, a Venerável Izanami foi a primeira a exclamar: "oh, na verdade tu és um jovem belo e amável!” E logo o Venerável Izanagi "Oh, mas que jovem bela e amável!". E depois de falarem, ele disse a sua companheira: "Não está bem que seja a mulher a primeiro falar”.

Não obstante, uniram-se em um leito e tiveram um filho, Hiru-ko, (menino sanguessuga). Eles o depositaram em uma canoa de juncos para que a correnteza o levasse, pois era grotesco. Depois, nasceu Awa Shima, a ilha da espuma, que sequer contaram como descendente. Disse O Venerável Izanagi:

"Os filhos que até esse momento nós tivemos não são bons. Devemos subir ao céu", e questionou as grandes divindades o motivo do acontecimento. Essas disseram, reunidas em Grande Oráculo: ”Como a mulher falou primeiro, as coisas não vão bem.” Então eles partiram de novo, e na Sagrada Coluna do Céu repetiram o processo anterior, mas dessa vez foi O Venerável Izanagi a falar primeiro. De sua união, nasceu à ilha de Awaji, o caminho da espuma”.

Da mesma maneira, as demais ilhas do arquipélago, Honshu, Shikoku, Kyushu, as ilhas gêmeas de Oki e Sado, e, finalmente, a ilha de Iki. Logo também conceberam uma série de deuses e deusas, entre os quais os do vento, das montanhas, e das árvores.


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