Pergunta:
A Teosofia ensina que o aprendizado só pode ser feito pela experiência, e que devemos passar por todas as experiências. Pergunto se isso significa que devemos passar através de cada uma das experiências que vemos na vida, mesmo as que são horríveis e revoltantes, para então podermos compreender tanto a simpatia como os seus opostos.
Resposta:
Além de a Teosofia ensinar, cada um de nós pode saber, por si mesmo, que o aprendizado só ocorre através da experiência e da observação.
Há três aspectos na experiência. Ela ocorre:
(a) Quando é imposta aos outros;
(b) Quando é imposta a nós; e
(c) Quando observamos a experiência, quer ela ocorra conosco ou com outros.
O que temos que aprender é o significado da Vida que cada um de nós é, e que todos nós somos. Devemos saber os poderes, as potencialidades, o desenvolvimento, o uso e o propósito desta Vida.
Conhecendo a lei do Carma e da Reencarnação, devemos compreender que cada um de nós já passou incontáveis vezes através de cada experiência concebível no mundo material, desde os seus estados mais elevados até os mais inferiores, e desde as suas formas mais simples até as mais complexas.
Nenhum ser humano, portanto, necessita qualquer experiência a mais, no sentido em que a palavra “experiência” é usada na pergunta acima. O que todo ser humano necessita é compreender estas experiências. A compreensão surge pelo contraste, pela comparação, pelo raciocínio, pela reflexão e, sobretudo, pela percepção de que toda a Vida é idêntica, e pela percepção da lei que abrange toda a Vida.
Desde a metade da Quarta Ronda [1], nenhum ser humano pode ter uma experiência nova. Ele só pode ter a repetição de experiências velhas, sejam elas boas, más ou indiferentes. Ele continua nesta situação até compreender que elas são efeitos e começar a viver e agir no plano das causas.
A pergunta feita acima surge com frequência.
Ela não pode ser respondida através da obtenção de qualquer número de experiências. O que nós percebemos são efeitos, e são estes efeitos que nós chamamos de experiências. Mas o mundo do Espírito ou puro Ser, e o mundo das Causas, ou mundo da existência mental, são também mundos de experiência, tanto quanto o mundo dos meros efeitos e, na verdade, mais do que ele.
O ser humano encarnado vive em três mundos: o mundo do ser, o mundo das causas, e o mundo dos efeitos. A palavra “experiência”, no seu sentido mais completo, significa a compreensão harmoniosa da unidade entre estes três mundos. Enquanto a experiência parecer para nós como algo “horrível” e “revoltante”, não podemos compreendê-la, porque a experiência é neste caso percebida apenas através da nossa natureza psíquica ou inferior.
É quando uma experiência de qualquer tipo é vista como experiência, e não como algo bom ou mau, agradável e desagradável, que começamos a fazer distinções espirituais e inteligentes, e passamos a tomar decisões práticas decorrentes destas distinções. A libertação surge da compreensão da Unidade da Vida, e não de qualquer quantidade imaginável de experiências relativas à sua manifestação ou aos seus efeitos.
John Garrigues
NOTA:
[1] “Quarta Ronda” é uma expressão técnica usada em “A Doutrina Secreta”, de H. P. Blavatsky. A humanidade atual já está na segunda metade da Quarta Ronda. O conceito de “Ronda” se refere a uma dimensão de tempo que ultrapassa amplamente as noções cronológicas hoje alimentadas pela História, pela Antropologia e pela Geologia convencionais.
O artigo acima foi publicado pela primeira vez na revista “Theosophy”, de Los Angeles, em fevereiro de 1928, p. 177, sem indicação de nome de autor. Uma análise do seu conteúdo e estilo mostra que foi escrito por John Garrigues (1868-1944). Título Original: “Undergoing All Experience”.
Carlos Cardoso Aveline
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