Esse artigo trás como intento afastar as más interpretações e desinformações sobre o autismo e tentar o entender sob a ótica espírita; sob esse prisma é necessário entendermos que a palavra “autismo” deriva do grego “autos”, que significa : “voltar-se para si mesmo”.
O autismo é um distúrbio do desenvolvimento humano que vem sendo estudado pela ciência há quase seis décadas, o precursor de seus estudos foi Léo Kanner[1] (1943) o qual pesquisou o primeiro vários casos e lançou o livro : "Autistic disturbances of affective contact",[2] onde descreveu os casos de onze crianças que tinham em comum: "um isolamento extremo desde o início da vida e um desejo obsessivo pela preservação da mesmice"[i], denominando-as de "autistas".
É bom salientar de que embora só em 1943 tenha se publicado as pesquisas, ao longo da história sempre houve crianças autistas, Kanner começou a interessar-se nesses casos específicos quando ingressou na psiquiatria infantil: “Desde 1938 têm chamado a minha atenção algumas crianças cujas condições diferem de forma marcante e tão específica de qualquer coisa até agora registrada que creio que cada caso merece, e eu espero que eventualmente receba, uma apreciação detalhada de suas fascinantes peculiaridades [...]”. (KANNER. 1943.p.217)
Alguns podem questionar de como reconhecemos uma criança autista; em resumo podemos afirmar que o autismo é síndrome[3] definida por alterações presentes desde idades muito precoces, tipicamente antes dos três anos de idade, e que se caracteriza sempre por desvios qualitativos na comunicação, na interação social e no uso da imaginação. Sob esse prisma Lorna Wing e Judith Gould em seu estudo realizado em 1979[4] caracterizaram estes três desvios, que ao aparecerem juntos caracterizam o autismo, denominam de “Tríade”. A Tríade é responsável por um padrão de comportamento restrito e repetitivo, mas com condições de inteligência que podem variar do retardo mental a níveis acima da média.
As autoras usaram o termo “espectro autista”[5] para permitir uma definição mais abrangente da perturbação, uma vez que constataram que algumas das crianças observadas não se integravam totalmente na caraterização efetuada por Kanner.
[…] É esta tríade que define o que é comum a todas elas, consistindo em dificuldades em três áreas do desenvolvimento mas nenhuma dessas áreas, isoladamente e por si só, se pode assumir como reveladora de “autismo”. É a tríade, no seu conjunto, que indica se a criança estará, ou não, a seguir um padrão de desenvolvimento anômalo […] (Wing & Gould, 1979, p.17)
Em resumo, o espectro nos abre um leque enorme de tipos de autistas, sendo o mais severo o autista denominado no CID 10[6] como “Transtorno Global de Desenvolvimento” onde é classificado (F84.0), ou pelo DSM 5[7], o qual classifica como leve[8] ou moderado e severo[9] os "Transtornos Invasivos do Desenvolvimento" e no meio desses espectro destacamos os que tem a “síndrome de Asperger” a qual diferencia-se do autismo clássico por não comportar nenhum atraso ou retardo global no desenvolvimento cognitivo ou da linguagem do indivíduo.
O termo “Síndrome de Asperger” foi utilizado pela primeira vez por Lorna Wing em 1981 em um jornal médico, que pretendia, desta forma, homenagear Hans Asperger[10], cujo trabalho não foi reconhecido internacionalmente até a década de 1990. A síndrome foi reconhecida pela primeira vez no DSM, na 4º edição em 1994 (DSM-IV)[11]
Ao contrário dos autistas “clássicos”, que normalmente estão ausentes e desinteressados do mundo que os rodeia, muitos “aspies” (apelido dado aos que sofrem da síndrome) querem ser sociáveis e gostam do contato humano. Têm, no entanto, dificuldade em perceber sinais não-verbais, incluindo os sentimentos traduzidos em expressões faciais, o que levanta problemas em criar e manter relações com pessoas que não percebem esta dificuldade.
Conforme Bryson e col. em seu estudo conduzido no Canadá em 1988, em cada mil crianças nascidas, uma teria autismo; Segundo a mesma fonte, o autismo seria três vezes mais frequente em pessoas do sexo masculino do que do sexo feminino, e incide igualmente em famílias de diferentes raças, credos ou classes sociais.[12]
Muitos cientistas e pesquisadores procuram sua causa, e ainda não chegaram a um denominador comum; hoje com os avanços da neurociência e do conhecimento sobre o genoma humano, tem-se avançado pelo campo das consequências mas não das causas propriamente ditas; a exemplo podemos citar que nesse campo de investigação os pesquisadores convergem na afirmativa de que o autismo tem sua causa esta na formação do cérebro quando a criança ainda é um feto; ou seja, quando dá-se inicio na formação do cérebro... Ali ocorre algo; uma excentricidade.
Em média, os autistas têm 67% mais neurônios do que as outras crianças no córtex pré-frontal; além disso, a massa do cérebro também mostrou uma grande diferença; segundo os dados obtidos, o cérebro dos autistas é 17,6% mais pesado que a média geral.
Estudos de James Sikela[13] e colaboradores através de pesquisas da Universidade do Colorado, descobriam correlação entre um alto número de cópias de um gene numa certa região do DNA humano e o desenvolvimento do cérebro, acarretando autismo e esquizofrenia. Conforme Sikela, em uma região instável do genoma 1q21.1 concentra-se um número alto de cópias de um gene chamado: DUF1220; Essa variação do número de cópias do genoma 1q21.1, no autismo e na esquizofrenia, se encaixa na ideia de que os indivíduos com essas doenças são os que o mecanismo humano permitiu a geração de mais cópias do gene DFU1220.
James Watson[14] lança a hipótese de que existe uma correlação entre autismo, esquizofrenia e inteligência; sua hipótese surgiu depois que sequenciou o genoma humano, o que levou a descoberta de que tinha mutações em genes ligados ao reparo do DNA:
BRCA1 e BRCA2, que atuam corrigindo danos causados durante a replicação do DNA.
As correções segundo Watson acabam por exceder ou não atingir o número de genes defeituosos.[15]
“Desse modo as pessoas com essas mutações tendem a ter filhos especiais”.[16]
Adentrando á ótica espírita, podemos perguntar por que nasceriam crianças assim; encontraremos, entre diversas respostas na codificação, a questão 373 do Livro dos Espíritos [ii]:
"P: Qual será o mérito da existência de seres que, como os cretinos e os idiotas, não podendo fazer o bem nem o mal, se acham incapacitados de progredir?"
"R: É uma expiação decorrente do abuso que fizeram de certas faculdades. É um estacionamento temporário.” E complementa no item “a” da mesma questão:
“P: Pode assim o corpo de um idiota conter um Espírito que tenha animado um homem de gênio em precedente existência?”
“R: Certo. O gênio se torna por vezes um flagelo, quando dele abusa o homem”.
Na questão 374, mostra-nos a consciência do espírito:
“P: Na condição de Espírito livre, tem o idiota consciência do seu estado mental?"
"R: Frequentemente tem. Compreende que as cadeias que lhe obstam ao voo são prova e expiação.”
E nos brinda com a 375, item “a” :
"R: Exatamente; mas, convém não perder de vista que, assim como o Espírito atua sobre a matéria, também esta reage sobre ele, dentro de certos limites, e que pode acontecer impressionar-se o Espírito temporariamente com a alteração dos órgãos pelos quais se manifesta e recebe as impressões. Pode mesmo suceder que, com a continuação, durando longo tempo a loucura, a repetição dos mesmos atos acabe por exercer sobre o Espírito uma influência, de que ele não se libertará senão depois de se haver libertado de toda impressão material."
O corpo humano está subordinado às informações ou ordens dos genes, desde que há, em verdade, um “Poder Inteligente” que orienta a formação do DNA e permite repará-lo quando necessário. Logo após a fecundação, a entidade reencarnante, de acordo com sua sintonia evolutiva, grava o seu código cifrado vibratório na matéria, atuando sobre o DNA.
Portanto, todas as transformações físicas, químicas, orgânicas, biológicas, de todas as células são orientadas e dirigidas pelo espírito que preside a tudo, funcionando o corpo como um grande computador biológico.
A doutrina espírita ensina que somos mentores do nosso próprio destino (o acaso não existe). Quando nascemos com alguma deformidade, em verdade a mesma já existia antes em espírito, porque a criamos dentro de nós, em determinada vivência física. Sob esse prisma, entendemos que o espírito é responsável por tudo que pensa e faz, subordinado à Lei de Causa e Efeito. Se tivermos algo a expiar, a distonia arquivada, em nosso perispírito, propiciará a escolha compatível ao novo encarne.
Conforme Bezerra de Menezes, o Autismo, assim como também todos os processos de limitações e doenças psíquicas e/ou mentais, é um resgate para espíritos que em suas encarnações passadas tiveram "poder" de influência, decisão, liderança, ideológico ou coisas assim e que não utilizaram aquele "dom" em um objetivo útil ao próximo, abusando de sua influencia e, muitas vezes, se aproveitando de tudo o que podia fazer para ganho próprio.
"[...] Espíritos há que buscaram, na alienação mental através do autismo, fugir às suas vítimas e apagar as lembranças que os acicatam, produzindo um mundo interior agitado ante uma exteriorização apática, quase sem vida. O modelador biológico imprime, automaticamente, nas delicadas engrenagens do cérebro e do sistema nervoso, o de que necessita para progredir: asas para a liberdade ou presídio para a reeducação". (FRANCO.1988 )[iii]
Conforme o psicólogo Adenáuer de Novaes[17] em sua obra “Reencarnação[iv]: processo educativo”, o processo reencarnatório desses espíritos é muito complexo: “Há crianças que rejeitam tão fortemente a encarnação atual, aos membros de sua família, ao ambiente em que retornaram, que se alheiam da realidade. Experimentam uma rejeição muito grande à atual encarnação. O espírito prefere permanecer vinculado ao passado, a algo distante e remoto que, de alguma forma, lhe recompensa. Esses casos podem levar ao autismo. [...]” e complementa de modo sublime: “[...] O mutismo, a indiferença, a ausência quase que completa de emoções, geralmente têm suas raízes em encarnações anteriores. A aceitação da atual existência seria fundamental. O trabalho dos pais consiste, em princípio, em reconquistar o filho nessa condição". (NOVAES. Cap. Psicologia e Reencarnação P.84/85)
Analisando essas informações, podemos de aqui destacar a frase do Dr. Jorge Andrea[18]: “O mundo espiritual aqui e ali tem informado que a condição autista desde o nascimento seria o resultado da revolta do espírito diante a imposição reencarnatória; bem claro que, além disso, estarão presente reações como respostas de uma vida pretérita destoante.”[v]
O autismo até a presente data não tem cura, nos casos mais severos há a necessidade de auxilio psiquiátrico e tratamento com remédios; a doutrina espírita aconselha sempre manter o tratamento com os profissionais especializados, e, em paralelo, um tratamento a base de fluidoterapia. A água fluidificada é um recurso também dos mais interessantes, já que a própria espiritualidade tem a possibilidade de impregnar a água destinada a ser tomada após o passe, com vibrações adequadas para aquele paciente, como um medicamento que seja apropriado para aquele momento específico e para aquela situação específica do paciente.
“Com o tempo, tem havido assimilação vibratória dessas energias benéficas, por mimetismo natural, e os interregnos, sem a intoxicação telepática dos adversários desencarnados, vêm proporcionando-lhe a revitalização mental, destruindo as paredes do mundo íntimo para onde, apavorado, fugiu, desde quando a reencarnação o trouxe à infância carnal.” (Bezerra de Menezes – Loucura e Obsessão, cap. 7, pp. 83 e 84).
Os autistas de grau mais leve ou os Aspegers podem, também, assistir as palestras, assimilando as informações e educando a alma.
“A criança como ser humano é um ser aberto à mudança, deficiente ou não deficiente, pode modificar-se por efeitos da educação e, ao mudar a sua estrutura de informação, formação e transformação do envolvimento, pode adquirir novas possibilidades e novas capacidades.” (Vitor da Fonseca. 1995)[vi]
--------------------------------------------------------------------------------
[1] Leo Kanner (1894 - 1981) psiquiatra austríaco radicado nos Estados Unidos. Especializou por seu próprio esforço em psiquiatria pediátrica, tendo estudado por seus próprios meios.
[2] Tradução: "Distúrbios autísticos do contato afetivo", publicado na revista Nervous Children (crianças nervosas).
[3] Síndrome - s.f. (gr. Syndrome) Conjunto dos sintomas que caracterizam uma doença.
[4] Lorna Wing e Judith Gould, efetuaram um estudo epidemiológico num bairro Londrino, onde concluíram que as dificuldades que caraterizam o autismo podem ser relatadas segundo uma “Tríade de Limitações” (Cumine et al., 2006, p. 9)
[5] Espectro autista, também referido por desordens do espectro autista (DEA, ou ASD em inglês) ou inda condições do espectro autista (CEA, ou ASC em inglês), é um espectro de condições psicológicas caracterizado por anormalidades generalizadas de interação social e de comunicação, e por gama de interesses muito restrita e comportamento altamente repetitivo.
[6] CID = Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde.
[7] DSM = Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais.
[8] Transtorno invasivo do desenvolvimento não-especificado TID ou TEA = Transtorno do Espectro Autista, CID 10 = F84.1 Autismo atípico
[9] Autismo Clássico
[10] Hans Asperger (1906-1980): médico pediatra austríaco formado na Universidade de Viena.
[11] Asperger tinha especial interesse em crianças "fisicamente anormais". Submeteu em 1943, o artigo Die 'Autistischen Psychopathen' im Kindesalter (A psicopatia autista na infância), à revista científica Archiv fur psychiatrie und Nervenkrankheiten, que o publicou no ano seguinte, no seu número 117, páginas 76-136. Seu trabalho baseou-se em estudos que envolveram mais de 400 crianças.
[13] James Sikela: Professor Do departamento de bioquímica e genética molecular da Universidade do Colorado (escola de medicina).
[14] James Dewey Watson: Biólogo molecular e geneticista; Premio Nobel e um dos descobridores da estrutura do DNA.
[15] Watson apresentou sua tese durante o 74º Simpósio de Cold Spring Harbor sobre Biologia Quantitativa, organizado pelo laboratório do qual ele era chanceler.
[16] Reportagem publicada na Folha Online em 03/06/2009 - "Autismo é o preço da inteligência, diz descobridor da estrutura do DNA" disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/ (página visitada em 07/02/2014)
[17] Adenáuer M. F. de Novaes: psicólogo clínico, escritor e orador espírita, fundador e diretor da Fundação Lar Harmonia, na cidade de Salvador.
[18] Jorge Andrea dos Santos, Nascido em 1916, em mais de meio século cruzou o país de Norte a Sul, fazendo palestras divulgando o espiritismo em seu aspecto cientifico.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Seu comentário é muito importante!