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Grande confeitaria paulista, ao anoitecer. Clientela numerosa.
Quando Olavo Dias, conhecido trabalhador da seara espírita, se aproxima da caixa para efetuar o pagamento da compra ouve a gritaria:
- Ladrão! Ladrão! Pega o ladrão! Pega! Pega!
Junta-se ao guarda robusto balconista e agarram o pobre homem mal vestido que treme ao apresentar o pacote nas mãos.
-Ele roubou um freguês - grita o caixa - triunfante ao segurar a presa.
Quase todos os rostos se voltam para o infeliz.
O Policial providencia em tudo o que o caso lhe sugere, mas Olavo Dias avança e toma a defesa.
- Ele não é ladrão - explica - e não admito qualquer violência.
E no propósito de ajudá-lo, Olavo mente, afirmando:
- É meu empregado e, talvez, retirou o pacote julgando que fosse meu.
Enérgico, toma o embrulho e devolve ao gerente, pede desculpas pelo engano e afasta-se com o desconhecido, dando-lhe o braço, como se o fizesse a um parente, diante do público perplexo.
Dobrando, porém, a primeira esquina, fala-lhe, admoestando:
- Ora essa, meu caro! Sou espírita e um espírita não deve mentir. Entretanto, fui obrigado a isso para defendê-lo.
O interpelado mergulha o rosto nas mãos ossudas e explica em lágrimas:
- Doutor, roubei porque tenho seis filhos com fome, sou doente... não consigo serviço...
- Ok, ok.. - falou Olavo, comovido - não estou aqui para fazê-lo chorar.
Condoído, abriu a carteira e deu-lhe certa importância em dinheiro e pediu-lhe o endereço.
O infeliz disse chamar-se Noel de Souza e informou a residência nas proximidades da Vila Maria, em modesto barracão.
Olavo Dias prometeu visitá-lo na primeira oportunidade.
Finda uma semana e ei-lo de automóvel a procurar pela casinha. Depois de algumas buscas localizou-a. Encontrou a senhora Souza e os seis filhinhos esquálidos, mas Noel não estava: saíra para procurar socorro médico.
Olavo, tocado de compaixão, fez o quanto pode pela família sofredora e, ao despedir-se, ouviu a dona da casa dizer-lhe, sob forte emoção:
- Um dia, se Deus quiser, Noel há de retribuir o senhor por tudo o que está fazendo por nós...
Decorridos seis meses, Olavo, certo dia, chega apressado ao aeroporto de outra grande cidade brasileira.
Precisava viajar urgentemente, mas não tem passagem. Arriscar-se-á, no entanto, a comprar na última hora. Dirige-se rápido para o guichê da uma empresa aérea, na expectativa de resolver o problema. O avião logo deverá decolar, mas ainda há tempo... mas, alguém cruza seu caminho. Sente-se abraçado numa explosão de ternura.
Olavo tenta quebrar o impedimento afetivo, mas reconhece Noel de Souza e estaca, surpreendido.
- Você... aqui?
- O amigo está humildemente trajado, mas limpo e alegre.
- Sim, doutor, preciso conversar com o senhor...
- Agora não Noel, falou Olavo, contrariado.
Como se não lhe notasse o azedume, o outro tomou-lhe o braço e arrasta-o docemente para fora da agência de viagens.
- Souza, não me detenha, não me detenha... roga Olavo, inquieto.
- Escute, doutor, preciso lhe agradecer...
E como não lhe pudesse escapar da mão, Olavo escuta-lhe a conversa entediado e impaciente. Noel refere-se à esposa e aos filhos e repete frases de gratidão e carinho.
Depois de alguns minutos, Olavo, revoltado desvencilha-se e abandona-o sem dizer palavra. Mas é tarde... o avião já está taxiando na pista.
Acabrunhado, Olavo, vê, de longe o aparelho na decolagem.
Bastante desapontado, procura Noel de Souza para ouvi-lo com mais atenção, entretanto, por mais minuciosa procura, não mais o encontra.
Daí a quatro horas, recebe trágica notícia.
O avião em que pretendia viajar caíra de grande altura, sem deixar sobreviventes.
Intrigado, regressa a São Paulo e corre a visitar o casebre de Noel. Quer vê-lo, abraçá-lo, comentar o acontecimento.
Mas, no modesto lar de Vila Maria, ficou sabendo que Noel de Souza desencarnara havia dois meses.
Espírito Hilário Silva
Adaptado do Livro "Almas em desfile"
Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira
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