É na hora solene da morte que todas as recordações da vida sobem à tona da consciência.
Descolchetam-se da memória os quadros que o tempo acumulou, em sua passagem, e as figurações do pensamento, as palavras desferidas e os atos endereçados ao caminho terrestre volvem à visão interior da alma em crise, carreando consigo os efeitos que produziram, segundo a própria espécie.
Vozes brandas e austeras se levantam para bendizer ou amaldiçoar, mãos serenas ou crispadas de dor se erguem para auxiliar ou ferir e imagens múltiplas, traduzindo amor e ódio, devotamento ou desprezo, se sucedem irremovíveis no imo da criatura em prostração, compelindo-a a receber o fruto das próprias obras.
A morte é, por isso mesmo, o retrato da vida.
Cada atitude nossa entre os homens é uma pincelada na tela do destino a esperar-nos no limiar do sepulcro, em sua justa colaboração.
Cada conflito que improvisamos ser-nos-á deplorável tumulto na mente, quanto cada gesto de amor puro erigir-se-nos-á por luz crescente, na travessia do nevoeiro.
Ao invés de temeres a morte, faze da existência a lavoura sublime de bondade e trabalho, auxílio e compreensão, em favor dos que te rodeiam, porque os semelhantes simbolizam tratos do campo que o Senhor nos concede lavrar em socorro de nossas necessidades, na Vida Eterna, e para o lavrador que se vale do dia, na transformação do próprio amor em fartura de bênção e pão, a noite chega sempre por sombra esmaltada de estrelas, acalentando-lhe o sono e garantindo-lhe o despertar.
Emmanuel
do livro: "Semeador em Tempos Novos"
Francisco Cândido Xavier
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