Se aspiras a compreender o que seja a emancipação espiritual para os que esperam a morte, de mãos no arado das obrigações fielmente cumpridas, ouve os companheiros encarcerados nas provas supremas da retaguarda.
Pergunta aos cegos que passam a existência buscando debalde fitar o colorido das flores, como se comportariam, obtendo, de improviso o dom inefável da visão, diante da luz;
Examina os mais íntimos anelos dos paralíticos, que atravessam longo tempo atarraxados no catre da aflição, suspirando por rastejarem;
Reflete no martírio dos companheiros que amargam no hospital o transitório desequilíbrio da mente, sequiosos de retorno ao próprio domínio;
Sonda a agonia silenciosa dos mudos que despenderiam alegremente todas as forças de que dispõem, a fim de pronunciarem breves palavras;
Registra os soluços dos órfãos pequeninos, suplicando aconchego no coração materno;
Medita na tortura constante dos que foram expulsos do lar, injustiçados e infelizes, sonhando o regresso aos braços que mais amam;
Relaciona os suplícios dos que jazem nas penitenciárias dispostos a darem tudo de si mesmos, pelo perdão das próprias vítimas, de modo a aplacarem as chamas do remorso que lhes revolvem as consciências;
Conta as lágrimas das mães desditosas que anseiam acariciar os filhos domiciliados para lá do sepulcro e dos quais se separam, muitas vezes, nas horas mais belas da juventude;
Observa o tormento da alma que ficou sozinha no mundo, tateando em desespero a lousa em que viu desaparecer os derradeiros sinais humanos da outra alma, cujo amor lhe resume a razão de ser;
Inventaria os pesadelos ignorados de quantos se curvam para a terra, suportando os extremos achaques da velhice corpórea, à feição do viajante dentro da noite, indagando às estrelas da oração pela hora da alma...
Emancipação! Todos que estiverem, um dia, encadeados às trevas da provação conhecem a grandeza dessa palavra!
Emancipação espiritual é a mensagem da morte; no entanto, para que a morte seja alegria e clarão, liberdade e reencontro, preciso tenhamos sabido aceitar a escola da experiência terrestre, aprendendo a sofrer e servir na veste física, a encharcar-se de suor no trabalho digno, a fim de recebermos as chaves de luz do lar eterno, na plenitude da Vida Maior.
Emmanuel
Francisco Cândido Xavier
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Seu comentário é muito importante!